segunda-feira, 20 de março de 2006
Mario Feres jogando Gamão
O quadro mostra cavalheiros a fumar e a jogar gamão - 1627.
Em 19 de março de 2011 o Mario está atento. É que ele joga gamão com a Greti. Sentado na poltrona, cotovelo na mesinha e apoiando o rosto na mão direita.
O barulho da porta se abrindo os fez olhar em relâmpago, mas logo voltando ao tabuleiro, sem qualquer palavra.
Assim os vi. Me aproximei e desci o corpo para cumprimentar a Greti. Mario, a dois palmos do meu rosto, não olhou pra mim. Continuou de olhos no tabuleiro enquanto eu erguia o corpo.
Eu sabia eu que o primo do Mario, o João Feres, havia chegado do Rio de Janeiro à uma hora da madrugada, pernoitando com o Mario, e que devia estar por ali.
Daí ha pouco ele aparece com umas garrafas de Água Prata, de bermuda e sandálias havaianas, brinco discreto na orelha esquerda e mantendo a pose de um general atento. Vinha da rua.
--- E aí, beleza?
Um pormenor. Ele é contestador e teima com facilidade. Somos adversários filosóficos por sermos ciumentos. Como dois diretores de filmes de cowboy palpitando sobre uma mesma cena. Com ele, o João, faço transparecer que sou mais amigo do Mario e ele faz questão de ser mais.
Sem preocupações. Não deixamos a peteca cair. Depois de tocamos no assunto que os pais deles são irmãos, falamos do quanto sorveram de sal e sol, o João e o Mario, na infância e mocidade.
Sentado na poltrona ao pé da cama do Mario, o mocinho do meu filme, observo o João Feres deitado de barriga pra baixo na cama de acompanhante, defronte ao lep top.
Dava gosto em ver o Mario administrando o encontro. Ele simplesmente fitava o tabuleiro enquanto João e eu argüíamos sobre quem são os responsáveis pelo crescimento das favelas. Por quase uma hora conjeturamos possibilidades.
Greti foi-se e o Mario pediu pra se deitar. Depois, segurei o papagaio pra ele e senti o morno predominar o metal enquanto ele cantarolava. João havia colocado umas músicas. Fui duas vezes na geladeira pegar o pratinho de balas de coco e mostrei ao Mario. Estendi o braço e ele pegou uma ao acaso. Sorveu. Fiz uma apologia do filme Os Dez Mandamentos e ele riu muito, mas um riso embutido, vindo como as ondas.
Depois de umas três horas me despedi e sái, mas antes de trancar a porta, parei e observei o João ajeitando a mesinha pra ficar de frente pro Mario. Na cama, O Mario me deu uma olhadela marota antes da porta se fechar.
Um beijo pra todos do José Márcio.